03 maio 2022
O Mar
Diego não conhecia o mar.
O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.
Ele - o mar - estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos.
E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu:
"-Pai, me ajuda a olhar!”
O livro dos abraços - Eduardo Galeano
02 maio 2022
Medo da eternidade
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.
Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
— Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.
— Como não acaba? — Parei um instante na rua, perplexo.
— Não acaba nunca, e pronto.
Eu estava bobo: parecia-me ter sido transportado para o reino das histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
Com delicadeza, terminei afinal pondo na boca.
— E agora que é que eu faço? — Perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver.
— Agora chupe para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
— Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexo, encaminhávamo-nos para a escola.
— Acabou-se o docinho. E agora?
— Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, eu não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeito. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar aquele chiclé.
Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
— Olha só o que me aconteceu! — Disse eu em fingidos espanto e tristeza. — Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
— Já lhe disse — repetiu minha irmã — que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhado diante da bondade de minha irmã, envergonhado da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra da boca por acaso.
Mas aliviado. Sem o peso da eternidade sobre mim.

(adaptado do texto de Clarice Lispector)
Tempo
Se quiser derrubar uma árvore na metade do tempo, passe o dobro do tempo amolando o machado
Provérbio chinês
Provérbio chinês
10 dezembro 2019
As Quatro Leis da Espiritualidade ensinadas na Índia
A primeira diz: “A pessoa que vem é a pessoa certa“. Ninguém entra em nossas vidas por acaso. Todas as pessoas ao nosso redor, interagindo com a gente, têm algo para nos fazer aprender e avançar em cada situação.
A segunda lei diz: “Aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido“. Nada, absolutamente nada do que acontece em nossas vidas poderia ter sido de outra forma. Mesmo o menor detalhe. Não há nenhum “se eu tivesse feito tal coisa…” ou “aconteceu que um outro…”. Não. O que aconteceu foi tudo o que poderia ter acontecido, e foi para aprendermos a lição e seguirmos em frente. Todas e cada uma das situações que acontecem em nossas vidas são perfeitas.
A terceira diz: “Toda vez que você iniciar é o momento certo“. Tudo começa na hora certa, nem antes nem depois. Quando estamos prontos para iniciar algo novo em nossas vidas, é que as coisas acontecem.
E a quarta e última afirma: “Quando algo termina, ele termina“. Simplesmente assim. Se algo acabou em nossas vidas é para a nossa evolução. Por isso, é melhor sair, ir em frente e se enriquecer com a experiência. Não é por acaso que estamos lendo este texto agora. Se ele vem à nossa vida hoje, é porque estamos preparados para entender que nenhum floco de neve cai no lugar errado.
A segunda lei diz: “Aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido“. Nada, absolutamente nada do que acontece em nossas vidas poderia ter sido de outra forma. Mesmo o menor detalhe. Não há nenhum “se eu tivesse feito tal coisa…” ou “aconteceu que um outro…”. Não. O que aconteceu foi tudo o que poderia ter acontecido, e foi para aprendermos a lição e seguirmos em frente. Todas e cada uma das situações que acontecem em nossas vidas são perfeitas.
A terceira diz: “Toda vez que você iniciar é o momento certo“. Tudo começa na hora certa, nem antes nem depois. Quando estamos prontos para iniciar algo novo em nossas vidas, é que as coisas acontecem.
E a quarta e última afirma: “Quando algo termina, ele termina“. Simplesmente assim. Se algo acabou em nossas vidas é para a nossa evolução. Por isso, é melhor sair, ir em frente e se enriquecer com a experiência. Não é por acaso que estamos lendo este texto agora. Se ele vem à nossa vida hoje, é porque estamos preparados para entender que nenhum floco de neve cai no lugar errado.
20 outubro 2019
Sobre raízes e asas
"Eu queria que você ficasse assim pra sempre, desse jeito.
Igual quando você me pedia pra “nunca” ir trabalhar.
Eu sei que pra você o mundo é mágico. Eu nunca me esqueci
disso não. Eu só não me lembro mais de como fazer parte dele, quando você não
está por perto.
Quero te falar uma coisa:
A medida que você crescer as penas das suas asas vão cair.
Os seus músculos vão atrofiar, até que você perca pra sempre a sua capacidade
de voar.
Um dia você vai ganhar suas chaves de casa, alguns números
que te identificam. Muitos “nãos” de coisas sem importância, que parecem não
fazer o mínimo sentido pra você.
O seus olhos também vão ver menos, a medida que você foi entendendo mais a
respeito do que vê. Tomara que não
aconteça, mas você vai trocar uma vida onde as suas obrigações se resumem a tomar
banho e comer direito, por grades que você nunca via, mas que também nunca
deixam de existir.
Você vai ver que algumas pessoas que aprendeu a gostar
trocaram seus brinquedos pela busca de reconhecimento, sucesso, terapias, casamento,
livros de autoajuda. Saiba que elas também estão perdidas e que só querem sua felicidade
prometida a muito tempo.
Não as abandone! Mas não se deixe influenciar, não.
Se você mantiver os olhos menos ofuscados pela frieza e
absurdos do mundo, mantiver as suas asas fortes pra suportar o peso das
pequenas coisas que se acumulam, vai ver paisagens tão lindas quanto as que via
durante o tempo da sua inocência.
Vai sentir cheiros que contam sua historia. Ouvir músicas
que o farão chorar, rir ou simplesmente dançar outra vez. Você vai conhecer
pessoas encantadoras e divertidas. Elas vão fazer você pensar: Sim! O mundo é
lindo!
E ele é, filho! Meus olhos é que não conseguem mais ver."
Estaria hj completando 18 anos.
* 2001 + 2002
18 setembro 2019
Não procure o Budismo
Se você quer milagres, não procure o Budismo. O supremo milagre para o Budismo é você lavar seu prato depois de comer.
Se você quer curar seu corpo físico, não procure o Budismo. O Budismo só cura os males de sua mente: ignorância, cólera e desejos desenfreados.
Se você quiser arranjar emprego ou melhorar sua situação financeira, não procure o Budismo. Você se decepcionará, pois ele vai lhe falar sobre desapego em relação aos bens materiais. Não confunda, porém, desapego com renúncia.
Se você quer poderes sobrenaturais, não procure o Budismo. Para o Budismo, o maior poder sobrenatural é o triunfo sobre o egoísmo.
Se você quer triunfar sobre seus inimigos, não procure o Budismo. Para o Budismo, o único triunfo que conta é o do homem sobre si mesmo.
Se você quer a vida eterna em um paraíso de delícias, não procure o Budismo, pois ele matará seu ego aqui e agora.
Se você quer massagear seu ego com poder, fama, elogios e outras vantagens, não procure o Budismo. A casa de Buda não é a casa da inflação dos egos.
Se você quer a proteção divina, não procure o Budismo. Ele lhe ensinará que você só pode contar consigo mesmo.
Se você quer um caminho para Deus, não procure o Budismo. Ele o lançará no vazio.
Se você quer alguém que perdoe suas falhas, deixando-o livre para errar de novo, não procure o Budismo, pois ele lhe ensinará a implacável Lei de Causa e Efeito e a necessidade de uma autocrítica consciente e profunda.
Se você quer respostas cômodas e fáceis para suas indagações existenciais, não procure o Budismo. Ele aumentará suas dúvidas.
Se você quer uma crença cega, não procure o Budismo. Ele o ensinará a pensar com sua própria cabeça.
Se você é dos que acham que a verdade está nas escrituras, não procure o Budismo. Ele lhe dirá que o papel é muito útil para limpar o lixo acumulado no intelecto.
Se você quer saber a verdade sobre os discos voadores ou sobre a civilização de Atlântida, não procure o Budismo. Ele só revelará a verdade sobre você mesmo.
Se você quer se comunicar com espíritos, não procure o Budismo. Ele só pode ensinar você a se comunicar com seu verdadeiro eu.
Se você quer conhecer suas encarnações passadas, não procure o Budismo. Ele só pode lhe mostrar sua miséria presente.
Se você quer conhecer o futuro, não procure o Budismo. Ele só vai lhe mandar prestar atenção a seus pés, enquanto você anda.
Desfazendo Equívocos
Por Reverenda Yvonette Silva Gonçalves.
Se você quer curar seu corpo físico, não procure o Budismo. O Budismo só cura os males de sua mente: ignorância, cólera e desejos desenfreados.
Se você quiser arranjar emprego ou melhorar sua situação financeira, não procure o Budismo. Você se decepcionará, pois ele vai lhe falar sobre desapego em relação aos bens materiais. Não confunda, porém, desapego com renúncia.
Se você quer poderes sobrenaturais, não procure o Budismo. Para o Budismo, o maior poder sobrenatural é o triunfo sobre o egoísmo.
Se você quer triunfar sobre seus inimigos, não procure o Budismo. Para o Budismo, o único triunfo que conta é o do homem sobre si mesmo.
Se você quer a vida eterna em um paraíso de delícias, não procure o Budismo, pois ele matará seu ego aqui e agora.
Se você quer massagear seu ego com poder, fama, elogios e outras vantagens, não procure o Budismo. A casa de Buda não é a casa da inflação dos egos.
Se você quer a proteção divina, não procure o Budismo. Ele lhe ensinará que você só pode contar consigo mesmo.
Se você quer um caminho para Deus, não procure o Budismo. Ele o lançará no vazio.
Se você quer alguém que perdoe suas falhas, deixando-o livre para errar de novo, não procure o Budismo, pois ele lhe ensinará a implacável Lei de Causa e Efeito e a necessidade de uma autocrítica consciente e profunda.
Se você quer respostas cômodas e fáceis para suas indagações existenciais, não procure o Budismo. Ele aumentará suas dúvidas.
Se você quer uma crença cega, não procure o Budismo. Ele o ensinará a pensar com sua própria cabeça.
Se você é dos que acham que a verdade está nas escrituras, não procure o Budismo. Ele lhe dirá que o papel é muito útil para limpar o lixo acumulado no intelecto.
Se você quer saber a verdade sobre os discos voadores ou sobre a civilização de Atlântida, não procure o Budismo. Ele só revelará a verdade sobre você mesmo.
Se você quer se comunicar com espíritos, não procure o Budismo. Ele só pode ensinar você a se comunicar com seu verdadeiro eu.
Se você quer conhecer suas encarnações passadas, não procure o Budismo. Ele só pode lhe mostrar sua miséria presente.
Se você quer conhecer o futuro, não procure o Budismo. Ele só vai lhe mandar prestar atenção a seus pés, enquanto você anda.
Desfazendo Equívocos
Por Reverenda Yvonette Silva Gonçalves.
10 setembro 2019
O barco de Teseu
“No curso de suas viagens, a madeira se rompia ou apodrecia, e tinha que ser substituída. Quando Teseu voltou para casa, o navio que atracou no porto não tinha mais nenhuma peça do navio que tinha, um dia, saído dali. Mesmo assim, a tripulação não duvidava de que se tratava da mesma embarcação.”
A questão que surge é: se um barco de 30 remos tiver apenas um remo substituído, ele vai continuar sendo o mesmo barco? E se 15 remos forem substituídos? E se todos os remos forem substituídos? E se, em vez dos remos, as tábuas que quebrarem forem substituídas? E se, no final, todas as tábuas do barco forem substituídas? O problema, e o que transforma isso num paradoxo, é que é muito difícil saber exatamente em que ponto uma coisa passa a ser outra coisa diferente se suas partes forem substituídas.
O que quero perguntar, afinal, é:
Quando foi que você deixou ser você? Você ainda é você?
Boa semana!
07 junho 2019
Sobre Homens e Cavalos
O duque Mu da China disse a Po Lo: "Você está bem entrado em anos. Haverá alguém em sua família capaz de substituí-lo na tarefa de procurar cavalos para mim?"
Po Lo respondeu: "Um bom cavalo pode ser selecionado por sua aparência e constituição física. Mas o cavalo fora de série o que não levanta poeira nem deixa rastro é algo evanescente e fugidio, tão intangível quanto o ar rarefeito. Os talentos de meus filhos situam-se em plano definitivamente inferior: reconhecem um bom cavalo quando o vêem, mas são incapazes de identificar um cavalo excepcional. No entanto, tenho um amigo chamado Chiu-Fang Kao, um vendedor de lenha e de legumes, que não fica nada a me dever em matéria de cavalos. Por favor, fale com ele."
O duque Mu assim fez, enviando-o logo depois em busca de um cavalo. Passados três meses, ele voltou anunciando que o encontrara.
"Está agora em Sach'iu", acrescentou. "Que tipo de cavalo é ele?", perguntou o duque.
"Ah, é uma égua baia", foi a resposta. Porém, quando alguém foi buscar o animal, verificou-se que era um garanhão negro como carvão! Muito contrariado, o duque mandou chamar Po Lo.
"Esse seu amigo", disse ele, "que contratei para encontrar um cavalo, meteu os pés pelas mãos. Ora bolas, não sabe nem distinguir a cor ou o sexo de um animal! O que é que ele pode entender de cavalos?"
Po Lo soltou um suspiro de satisfação.
"Será mesmo que ele chegou a tal ponto?", perguntou em tom excitado. "Ah, então ele é dez mil vezes melhor do que eu. Não há comparação entre nós. O que o Kao tem em mira são os elementos espirituais. Certificando-se do essencial, esquece os detalhes comezinhos. Concentrando- se nas qualidades internas, perde de vista os sinais exteriores. Ele vê o que quer ver, e não o que não quer ver. Vê o que precisa ver e esquece o que não precisa ver. Kao é tão sábio como avaliador de cavalos que deveria julgar algo melhor do que simples animais."
Quando o cavalo chegou, provou ser extraordinário.
(Bom final de semana!)
Po Lo respondeu: "Um bom cavalo pode ser selecionado por sua aparência e constituição física. Mas o cavalo fora de série o que não levanta poeira nem deixa rastro é algo evanescente e fugidio, tão intangível quanto o ar rarefeito. Os talentos de meus filhos situam-se em plano definitivamente inferior: reconhecem um bom cavalo quando o vêem, mas são incapazes de identificar um cavalo excepcional. No entanto, tenho um amigo chamado Chiu-Fang Kao, um vendedor de lenha e de legumes, que não fica nada a me dever em matéria de cavalos. Por favor, fale com ele."
O duque Mu assim fez, enviando-o logo depois em busca de um cavalo. Passados três meses, ele voltou anunciando que o encontrara.
"Está agora em Sach'iu", acrescentou. "Que tipo de cavalo é ele?", perguntou o duque.
"Ah, é uma égua baia", foi a resposta. Porém, quando alguém foi buscar o animal, verificou-se que era um garanhão negro como carvão! Muito contrariado, o duque mandou chamar Po Lo.
"Esse seu amigo", disse ele, "que contratei para encontrar um cavalo, meteu os pés pelas mãos. Ora bolas, não sabe nem distinguir a cor ou o sexo de um animal! O que é que ele pode entender de cavalos?"
Po Lo soltou um suspiro de satisfação.
"Será mesmo que ele chegou a tal ponto?", perguntou em tom excitado. "Ah, então ele é dez mil vezes melhor do que eu. Não há comparação entre nós. O que o Kao tem em mira são os elementos espirituais. Certificando-se do essencial, esquece os detalhes comezinhos. Concentrando- se nas qualidades internas, perde de vista os sinais exteriores. Ele vê o que quer ver, e não o que não quer ver. Vê o que precisa ver e esquece o que não precisa ver. Kao é tão sábio como avaliador de cavalos que deveria julgar algo melhor do que simples animais."
Quando o cavalo chegou, provou ser extraordinário.
(Bom final de semana!)
27 maio 2019
26 abril 2019
Chernobil 33 anos
“ Boa tarde, meus camaradas. Todos vocês sabem que houve um inacreditável erro – o acidente na usina nuclear de Chernobil. Ele afetou duramente o povo soviético, e chocou a comunidade internacional. Pela primeira vez, nós confrontamos a força real da energia nuclear, fora de controle. "
Mikhail Gorbachev, quando o governo admitiu a ocorrência.
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